Janela
A janela delimita uma fronteira, mas ao mesmo tempo estabelece um diálogo entre o interior e o exterior.
A janela é a pintura:
“Onde tenho de pintar, escrevo um quadrilátero de ângulos rectos do tamanho que quiser, que considero ser uma janela aberta através da qual posso ver o que aí vai ser pintado” (Leon Battista Alberti, De Pictura, 1436) → “Perspetiva renascentista”.
“a antiga metáfora do olho como ‘janela da alma'” (Belting – 2010, La fenêtre et le moucharabieh: une histoire de regards entre Orient et Occident, in E. Alloa (ed.), Penser l’image, Dijon, Les presses du réel: 145-173)
A partir de Alberti, portanto, a janela torna-se o “dispositivo” tomado como modelo do nosso modo de ver o mundo pela época a que chamamos moderna
Não é necessário sublinhar como esta forma – a forma quadrangular e, mais precisamente, retangular – continua a ser atribuída às nossas imagens (e, por conseguinte, aos seus dispositivos de produção e reprodução) de forma tão predominante que se torna uma evidência, e não uma “construção cultural” muito precisa (Charbonnier 2007: 19. Charbonnier, L. – 2007, Cadre et regard: généalogie d’un dispositif, Paris, L’Harmattan).
“A questão volta então a colocar-se: o que é que implica tomar a janela como modelo da nossa maneira de ver o mundo, como fez a pintura na época a que chamamos moderna? Em primeiro lugar, implica dividir o espaço em duas partes, respetivamente deste lado e do outro lado, ou seja – como disse antes – colocadas uma em frente da outra, às quais a própria janela atribui caracteres opostos, garantindo, desde que seja aberta, como assinalou Alberti, ou pelo menos transparente, a quem ocupa a parte deste lado o papel de vidente e a quem ocupa a parte do outro lado o de visto.
Tomar a janela como modelo da nossa maneira de ver o mundo é, portanto, conceber a visão como uma operação caracterizada pela separação entre o espetador e o espetáculo.”
“Tal como a visão que toma a janela como modelo, esta imagem do pensamento situa o mundo, por um lado, descrevendo-o como um espetáculo e definindo-o como um “objeto” porque estaria “colocado à nossa frente”, como a palavra ob-iectum também significa etimologicamente; por outro lado, situa-nos a nós próprios, descrevendo-nos como espectadores, definindo-nos como “sujeitos” porque, precisamente na medida em que estamos separados do espetáculo, podemos fazer uma “representação” dele.”
(https://journals.openedition.org/estetica/921?lang=en)